COMO UM BERSERKER! Real Madrid se consagra campeão da Euroliga pela Décima vez!
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Nessa tarde de domingo, o Real Madrid Baloncesto foi coroado Campeão da Euroliga Turkish Airlines, maior competição do basquete europeu. Foi fácil? Claro que não. E na matéria, uma retrospectiva do caminho até aqui, e da minha visão como torcedor dessa equipe fantástica.
Luka Doncic, horando a magia da Camisa 7. (fonte: MARCA)
Ver a partida de hoje me fez por alguns momentos voltar para
como me sentia quatro ou cinco anos atrás. Tarde, outono chegando com o frio
mais cedo aqui nos Pampas, e final da Euroliga de Basquete uma semana antes da
final da Liga dos Campeões. Era o Real Madrid de la canasta, que impôs um recorde europeu de 28 vitórias
consecutivas, havia ganhado a Copa do Rei de forma triunfal, chegando com moral
para enfrentar o até então nada favorito Maccabi Electra de Tel Aviv em uma
final em Milão. Empate, prorrogação decretada por dois lances livres mágicos
convertidos por Ioannis Bouroussis que vinha com um retrospecto negativo nesse
atributo. Na prorrogação, aqueles cinco minutos pareciam eternos, um placar
apertado que os judeus conseguiram ampliar na reta final. 28 vitórias, perdemos
a final da Euroliga, depois perdemos a final da Liga Endesa para o Barcelona
por 3 a 1 numa melhor de cinco jogos.
O que isso significava na época? Ver um Real Madrid que
parecia imbatível perder o combustível justo na reta final? Duas temporadas
antes houve outra final da Euroliga perdida para o Olympiacos de Piraeus,
depois de abrir mais de 20 pontos de vantagem, perdemos por 12. Sempre gostei
de basquete – até mais do que de futebol – e via uma equipe que parecia tremer
em decisões. Lembro de ter sentido raiva de Sergio Llull na final de Milão,
afinal, ele terminou basicamente zerado. Houveram críticas, cobranças, mas a
base da equipe foi mantida. Sergio Llull, Rudy Fernandez, Sergio “El Chacho”
Rodriguez, Felipe Reyes, Gustavo Ayón e Jaycee Carroll virariam a base da
equipe nos anos seguintes. Em contrapartida, um jogador se destacava nas divisões
de base, e foi evidência no país inteiro quando sentenciou a final da Copa do
Rei sub-16 com um triplo-duplo. Esse jovem se chamava Luka Doncic, esloveno,
criado dentro do Real Madrid, uma promessa.
Chegou a próxima temporada com nostalgia no uniforme, com
agora a marca têxtil espanhola Teka estampando a camisa branca do Real Madrid no lugar da seguradora MMT. Pra
quem lembra, a Teka foi bastante popular como patrocinadora da equipe de
futebol do Real Madrid no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. É aquela
camisa com as patinhas de tigre no lugar das icônicas listras da Adidas. A
temporada não começava tão bem, afinal, perdíamos o então melhor jogador da
equipe, Nikola Mirotic para a NBA. Para o seu lugar vinha um cara chamado Andrés
Nocioni. Argentino, medalhista olímpico por sua seleção junto do lendário Manu
Ginobili, mas parecia estar além da idade ideal para desempenhar o melhor
basquete. Lembro de ficar frustrado, afinal “como podem substituir o Niko por
um cara de 35 anos?” E caras, como eu estava errado, e como fiquei feliz por
estar errado. Real Madrid venceu a Copa do Rei das Ilhas Canárias, lembro das
imagens da equipe de produção fazendo uma quadra na praia da cidade para partidas
de exibição, e encerramos com mais uma final contra o Barcelona. Na final da
Euroliga, assisti pela Band Sports, e lembro das palavras do comentarista ao
fazer um paralelo entre o Real Madrid e Mágico de Oz. “O Real Madrid era como o
Homem de Lata, uma máquina sem coração. Nocioni se transformou no coração desse
time”. Campeões numa revanche alucinante contra o Olympiacos, e com um Andrés
Nocioni sendo o MVP da Final Four. O jogador que eu critiquei, do qual duvidei,
se transformou no coração do time que eu tanto torço.
Campeões na revanche contra os gregos.
A temporada seguinte foi marcada por reformulações. Viriam Trey
Thompkins e Jeff Taylor. Luka Doncic agora era parte oficial da primeira equipe,
peça de rotação sem espaço entre os titulares mas crescendo conforme as
partidas seguiam. Vieram a Supercopa da Espanha e um inédito Intercontinental de
Clubes no atual formato ganhado no Brasil contra o Basquete Bauru. Outra Copa
do Rei, Liga Endesa, e batemos na porta da Euroliga. Temporada seguinte, perdemos
a Liga Endesa, ganhamos a Copa do Rei, somos eliminados pelo Fenerbahce nas
quartas de final da Euroliga e não chegamos na Final Four. Entretanto, vimos
Sergio Llull ser coroado como MVP de todas as competições oficiais que
participou: Copa do Rei, temporada regular da Liga Endesa e Euroliga.
E, chegou a temporada atual, com a camisa sendo estampada pela logo da Universidad Europea de Madrid, simbolizando um acordo entre a fundação educacional e o clube. Comecei não tão animado,
afinal, na temporada de 2016-2017 eu falava que via o Real Madrid tendo uma das
equipes mais fortes de todos os tempos. Perdiamos Sergio Rodriguez para a NBA
após o Chacho sair rumo ao Philadelhia 76ers, mas, ganhávamos Anthony Randolph
e Othelo Hunter, dois pilares no garrafão. Parecia a receita perfeita para
suprir a queda de rendimento de Nocioni já com 37 anos e as lesões recorrentes
de Ayón. Acabou que Hunter não se firmou, embora Randolph passasse a ser parte
essencial da equipe. Hunter foi pro CSKA e deu lugar a Ognjen Kuzmic, um dos
jogadores defensivos com melhores números na Euroliga. Foi contratado também um
francês chamado Fabien Causeur, destaque do Brose Bamberg. Ano de Eurobasket, e
nos amistosos de preparação representando a Espanha, Sergio Llull rompe o ligamento
cruzado de um dos joelhos. A temporada oficial começava, e Kuzmic caía com a
mesma lesão. Parecia uma temporada
perdida. Já não tínhamos Chacho (que voltava para a Europa, mas para jogar no
CSKA), Nocioni havia se aposentado, não fazia ideia de como Causeur seria, Rudy
já não era o mesmo dos anos anteriores. E, claro, Randolph também se machucou e
ficou meses sem jogar. As lesões forçaram a diretoria a contratar de novo,
investindo no americano Chasson Randle e no cabo-verdense Walter “Edy” Tavares.
Os jogos começavam, tínhamos uma equipe discreta e muitas dúvidas. E agora?
Caberia a Doncic assumir a liderança do Real Madrid? Ele vinha bem, mas como
uma promessa, com 18 anos (agora 19). Um jogador tão novo poderia assumir esse
fardo que antes era dividido por um Dream
Team? Contra todas as dúvidas, a resposta foi sim.
Na temporada de 2017-2018 pudemos ver Luka Doncic crescer a
cada partida, evoluindo não apenas em números mas na qualidade de organizar a
partida ofensivamente e na determinação defensiva. Mesmo jovem, ele não se intimidava
por pivôs mais altos e mais fortes. Distribuía assistências, pontuava,
defendia, era um all-around completo
jogando facilmente em quatro das cinco posições de quadra. Conforme os meses se
passavam e o destaque aumentava, Doncic passou a ser figura carimbada nas
apostas para o Draft de 2018 da NBA. Primeiro era algo como “ele vai se
inscrever, talvez seja escolhido por alguma equipe”. Pouco depois “talvez ele
seja escolhido no primeiro round”. E agora, é dado como certeza entre as três
primeiras escolhas, sendo acompanhado e observado por executivos de suas
prováveis equipes da NBA. No fim das contas, o Real Madrid é a maior equipe de
futebol do planeta, e em questão de basquete, pode-se gabar por ser a maior da
Europa. Mas, a NBA está acima disso, e cabe a nós aceitar essa condição, e
respeitar. Doncic cresceu e se transformou em um jogador que está acima do que a
Europa pode oferecer.
Mas, todos esses holofotes precisavam ser comprovados por
algo, não? Sim, com certeza. Doncic foi eleito Rising Star da Euroliga (prêmio
dado ao melhor jogador com menos de 21 anos), compareceu no First Team como SF
e por fim foi eleito MVP da temporada regular ao liderar um Real Madrid marcado
por desfalques para a Final Four de Belgrado, na Stark Arena da Servia. Enfrentou
o Pananthinaikos de Nick Calathes, o CSKA de seu antigo companheiro Sergio Rodriguez,
e chegou à final contra o Fenerbache de Melli.
Durante toda a final eu fiquei muito tenso. Afinal, diferente
do futebol, onde com exceção a uma Copa do Rei perdida para o Atletico de
Madrid, eu não vi o Real Madrid perder uma final “grande”. Finais de Liga dos
Campeões? Quatro vitórias em quatro finais que assisti. Copa do Rei? Duas
vitórias heroicas contra o Barcelona. Já no basquete, acompanhei a derrota para
o Olympiakos, assisti cada minuto da final contra o Tel Aviv, vibrei com a revanche
contra os gregos. Mas, dessa vez o problema vinha da Turquia. Fenerbahce é
conhecido pela força física e pela capacidade atlética de seus jogadores. Rápidos,
fortes, resistentes e atuais campeões. Um ano atrás fomos eliminados por eles
com um 3 a 0 nas quartas de final, e eu sinceramente os via como favoritos. Faz
parte ser humilde e compreender quando a equipe adversária está em um momento
melhor, mesmo com a dificuldade imposta pelas lesões. Falando nelas, Llull
voltava nas quartas de final, ganhando ritmo para a Final Four após se
recuperar do rompimento do ligamento. Mas, estatística não ganha jogo. Bola pro
alto, 50% de chance pra cada lado.
A partida em si foi duríssima, e fui surpreendido por muitas
coisas. A primeira delas foi, literalmente, a raça desse Real Madrid. Ayón foi
um gigante na primeira parte do jogo. Thompkins e Tavares foram na segunda.
Tavares, aliás, fez uma partida absurda na defesa, parecia ter três metros de
altura quando pulava pra pegar um rebote, pra defender e dificultar o trabalho
dos turcos. Idem pra Thompkins, que sempre questionado calou muita, mas muita
gente com sua partida, sempre providencial na defesa e impecável quando tinha a
chance de arremessar. O ataque, por sinal, foi comandado por Doncic, Llull e
Causeur, embora os dois primeiros acabassem pagando caro por sua intensidade
defensiva na reta final da partida. Tanto Llull quanto Doncic foram ejetados da
partida quando a vantagem era de dez pontos faltando menos de três minutos para
o relógio zerar. Aliás, é divertido como os minutos finais de uma partida de
basquete parecem eternos. Parecia que o dia acabaria, mas a partida não,
principalmente quando os turcos encostaram no placar, até então 83 a 80. Do
lado do Fenerbahce, o italiano Nico Melli parecia imparável junto de Brad
Wanamaker. Causeur com a bola recebeu falta e fechou o placar com dois lances
livres convertidos. 85 a 80, com a posse nas mãos do Fenerbahce até que o
próprio francês bloqueasse o ataque adversário e roubasse a bola. Relógio
zerado, campeões de forma heroica, como Berserkers.
Reyes de Europa.
Antes que o troféu de campeão fosse entregue, Doncic foi
anunciado como o MVP da Final Four. O esloveno deve sair pela porta da frente,
campeão da principal competição, coroado MVP de todas as formas possíveis e
comandando sua equipe da melhor forma que pôde. Essa final significou muito,
pois além de voltar a colocar o Real Madrid no topo da Europa novamente, ensina
a sofrer. Aliás, o basquete ensina a sofrer, pois não há final fácil,
principalmente quando chega a uma partida decisiva como essa. Na NBA sofre-se
essa tensão no famoso “Jogo 7”, e na Europa têm-se a Final Four e toda a sua
magia. São universos distintos dentro do mesmo esporte que proporcionam
momentos incríveis, e de certa forma inesquecíveis. Ganhando ou perdendo, são
momentos de força e superação como esse que me fazem amar o Real Madrid. Nunca
foi pelo número de títulos ou pela riqueza, que, aliás, eu sequer imaginava
quando vi Zidane com essa camisa pela primeira vez.
PLACAR FINAL: 85 - 80
FICHA TÉCNICA
REAL MADRID ▰▰▰
Luka Doncic: 15 pontos, 3 rebotes, 4 assistências
Fabien Causeur: 17 pontos, 2 rebotes, 2 assistências
Felipe Reyes: 6 pontos, 3 rebotes
Gustavo Ayón: 4 pontos, 2 rebotes, 1 assistência
Facundo Campazzo: 1 assistência
Walter Tavarez: 8 pontos, 5 rebotes, 2 assistências
Rudy Fernandez: 5 pontos, 5 rebotes, 3 assistências
Trey Thompkins: 10 pontos, 5 rebotes, 1 assistência
Jeffery Taylor: 3 pontos, 3 rebotes, 1 assistência
Jaycee Carrol: 9 pontos
Sergio Llull: 5 pontos, 2 assistências
Anthony Randolph: 3 pontos, 1 rebote
FENERBAHCE INSTANBUL ▰▰▰
Nico Melli: 28 pontos, 6 rebotes, 1 assistência
Brad Wanamaker: 14 pontos, 5 rebotes, 5 assistências
Nikola Kalinic: 7 pontos, 3 rebotes, 1 assistência
Marko Guduric: 1 rebote, 2 assistências
Ahmet Duverioglu: 8 pontos, 1 rebote
Kostas Sloukas: 7 pontos, 1 rebote, 4 assistências
Luigi Datome: 6 pontos, 3 rebotes
Ali Muhammed: 7 pontos, 2 rebotes, 1 assistência
James Nunnally: 1 assistência
Jason Thompson: 0, 0, 0
Melih Mahmutglu: 0, 0, 0
Só uma correção, no fim da matéria, Istambul* tá escrito errado, e no meio tem que colocar o nome do patrocinador deles, pois é uma alusão financeira que fazem para a manutenção do clube turco, que é a administradora Dogus. Então, neste caso, Fenerbahce Dogus Istambul* seria o correto. Fora que senti falta de ter uma descrição do Real Madrid nesta final e o desempenho da equipe hoje contra o Fenerbahce. No resto, gostei e muito da retrospectiva e do sentimento de torcedor descrito na matéria. Parabéns !
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