ENTREVISTA | Iker Casillas: "O futebol não pode me expulsar".
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O goleiro do Porto e da seleção espanhola em entrevista ontem para a Cadena Ser, defendeu seu direito de se aposentar quando decida. "Certamente chegará um momento em que você tem que tomar uma decisão, mas não me vão expulsar nem quatro jornalistas nem quatro opiniões", disse ele em sua conversa com José Ramón de la Morena.
P. Você está preocupado com a seleção?
Iker: “A verdade é que não. Eu entendo que as pessoas podem pensar e dizer qualquer coisa, mas a equipe tem uma hierarquia e uma história para que tenha um pouco de respeito”.
P. Quando você retorna ao Porto?
Iker: “Amanhã ao meio-dia”.
P. Você passou o dia com seus amigos, relaxando e, em seguida, você foi para jantar e ensinar mus, certo?
Iker: “Fomos comer com amigos que tinha tempo que não via, que já são três meses de duração sem pisar em Madrid. Anedotas mais aqui, anedotas lá e depois um pouco de cartas, que gostamos muito a todos”.
P. Como foi com o mus?
Iker: “Não posso me queixar. Eu acho que, apesar de passar três meses em Portugal ainda mantenho um bom nível”.
P. Você relaxou depois dessa Semana Santa com a Seleção?
Iker: “Sim, estou relaxado. Quando eu vou com a Seleção, me desconecto, vou de outra forma, não como há 10 meses. Eu tenho que viver uma fase diferente. Eu pertenço à outra equipe e, portanto, a minha cabeça tem mudado. Não tem sido fácil, depois de 25 anos no mesmo clube e 16 na primeira equipe do Real Madrid. Quando venho de fora, acho estranho. Muitas vezes me vai à mente quando vejo que há colegas do Real Madrid... Felizmente fui pouco a pouco assimilando a minha situação”.
P. No fundo você ainda se sente jogador do Real Madrid...
Iker: “As pessoas me conhecem há muito tempo. Eu sempre fui ligado ao Real Madrid e estou muito contente, é claro”.
P. Na seleção você ainda está sentado na mesa do Real Madrid?
Iker: “Eu estou com pessoas que eu conheço. Com Sergio Ramos, com Nacho, com Isco, com Morata... Somos os que temos estado juntos e compartilhado vestuário. Afinal, temos uma ligação, umas raízes”.
P. Vejo-te forçado no Periscope de Piqué. Foi um assalto como esse ou parecido?
Iker: “Parecido. Ou maior, eu acho. Porque você é pego traiçoeiramente”.
P. Você não sabia de nada?
Iker: “Não, veio me procurar na hora do descanso e recusei um pouco. Ao final, eu disse, me deixe em paz, não me pressione que não estou com vontade. E na merenda, ou me escondia e sairia correndo... mas como segue tantas pessoas a este homem disse, eu fico sentado e lhe atendo. Se digo que não, ficaria mais insistente e, no final, te pegaria a qualquer momento”.
P. Sempre teve bons amigos no Barcelona.
Iker: “Sim, fomos companheiros e rivais. Eu tive bom relacionamento com quase todos. Não tenho nenhum problema em dizer isso. Então, cada um olha pelo seu, está claro”.
P. Tem tempo que não fala com Xavi?
Iker: “Muitos meses. Acho que a última vez foi quando ele foi pai e eu o felicitei. Um pouco mais. Está muito confortável em uma nova fase de sua vida”.
P. Como está indo no Porto?
Iker: “Muito bem. Eu gostaria que fosse melhor. Estamos lutando pelo segundo lugar e, porque não, pelo primeiro. Obviamente, nós dependemos dos outros. Faltam sete jogos e temos que continuar lutando. Estamos no final da Copa, que para nós é importante porque sendo uma equipe forte em Portugal há dois anos não conseguimos um título e se conseguirmos seria importante”.
P. Você sente que te examinam em cada jogo?
Iker: “Sim, constantemente”.
P. É difícil?
Iker: “Não, eu entendo. É a lei da vida. Cada jogo é um teste. Em seu clube e na Seleção, é o mesmo”.
P. Antes falavam das defesas, com as mãos. Agora, de falhas... Como você metaboliza tudo isso?
Iker: “Quando você tem 20 anos às coisas são vistas muito diferentes. Uma vez que você amadurece e consegue vitórias, vai crescendo a sua moral e sua autoestima. E aos 35 anos, não é que você tropece, mas eu posso dar ao luxo de olhar para trás e dizer 'aqui está a minha carta de apresentação’. Eu ganhei o direito de desfrutar do futebol, fazer o que eu gosto, aproveitar desse esporte tudo o que puder e mais porque me deu muito e porque eu acredito que sou capaz de seguir fazendo as coisas”.
P. Você realmente acha que está aproveitando? Porque eles te colocaram em dúvida e quando isso acontece todos discutirão.
Iker: “Acontece com todo mundo. É a lei da vida. Muitos anos na primeira página dos jornais. Não tenho nenhum problema. Meu roteiro tenho isso claro há muito tempo”.
P. Onde acaba esse roteiro?
Iker: “Apenas quando eu decidir que me vou do futebol. Eu ganhei o direito a isso e, portanto, vou fazê-lo. O futebol não pode me expulsar. Certamente chegará um momento em que você tem que tomar uma decisão, mas não me vão expulsar nem quatro jornalistas nem quatro opiniões nem qualquer outra coisa. Vou-me ir com uma consciência muito tranquila de ter feito o melhor que eu podia fazer, para ser um goleiro”.
P. A amizade entre os goleiros é difícil porque há apenas uma posição. Como é com De Gea?
Iker: “Muito bem. É um cara fantástico e um goleiro brilhante. É o presente e o futuro do futebol espanhol. Estamos todos tranquilos, porque vamos deixar em boas mãos um lugar importante dentro da Seleção. O conselho que sempre lhe dou é que tem que empurrar, que ninguém vai te dar de presente o posto e que todo mundo quer ser goleiro da Seleção”.
P. Você o vê em melhor forma do que você?
Iker: “Ele ainda tem um mundo à frente e eu tenho menos. Ele tem garras que eu não tenho e eu outras que ele não tem. Tomara que todas as seleções tenham goleiros jovens que possam lutar pela Seleção. Aqui está a competência. E não só com David, mas com Sergio Rico, Adrián... Com isso estaremos tranquilos”.
P. Você me disse que para ser goleiro da Seleção e do Real Madrid tem que ser especial, ou seja, aguentar a pressão... Você tem que ter um calo especial?
Iker: “Eu acho que sim. Em um clube como o Real Madrid é difícil de suportar cada semana. O que eles pedem de você é que ganhe títulos e tanto o goleiro como os jogadores têm a responsabilidade de comemorar um título com os fãs. Se não o fizer, em seguida analisam o trabalho de qualquer jogador e também do goleiro. E na Seleção, a mesma coisa, especialmente depois do que conseguiu Espanha. É difícil que as pessoas diminuem a barra. Dez anos atrás, empatar com a Itália era algo que celebrávamos, que eu joguei. Agora é um desastre. É engraçado como o futebol mudou. As pessoas têm de perceber que aquilo que vivemos não é real, é o que você sonha”.
P. Sim é real porque vivemos assim.
Iker: “Claro, mas é muito difícil que se viva novamente. Eu jogo ambas as mãos de que vai ser muito complicado que uma Seleção ganhe o que ganhou Espanha. Vamos levar muito tempo para ver isso”.
P. Então a Eurocopa nem vê-la?
Iker: “Isso não. Perdemos uma Copa do Mundo há dois anos na primeira fase. Já não é igual. As seleções estão preparadas e têm anos de viagens. França amadurecendo, a Bélgica é uma seleção forte... As coisas não são como nós podemos pensar. Em uma Copa do Mundo ou uma Eurocopa, também é preciso ter sorte”.
P. Estaria disposto a ir de segundo goleiro?
Iker: “Não sei. Não posso te dizer. Estou pronto para ir a Eurocopa. Tomara que Vicente Del Bosque me chame”.
P. Ele insinuou alguma coisa?
Iker: “Ele não me disse nada. Mas eu estou na lista dos 23 e o treinador se optar por outro jogador, terei que assimilar o meu papel. Se eu for, é para treinar e lutar. Eu quero aproveitar este esporte, porque eu gosto”.
P. Em "El Hormiguero" entendi que queria ir, mesmo se não jogasse.
Iker: “Eu disse como piada. Se me levam, seria muito feliz. Seria minha quinta Eurocopa e estaria muito orgulhoso”.
P. As bolas que lançaste com os punhos sem arriscar... É um ato de reflexo, segurança, temendo uma falha que ninguém te perdoa? Você prefere arriscar menos?
Iker: “Percebe que você me pergunta que se lanço uma bola para evitar um erro. Até onde chegamos. Já não analisam se deixas sua área a zero ou faz uma boa defesa... Você está me olhando com lupa”.
P. Você sabe que não. Ontem ouvi comentários e prefiro te perguntar.
Iker: “As pessoas desde a barreira se veem com bom aspecto. Eu lanço com punhos, não quero problemas e pronto. Outra coisa é que se a bola tivesse ficado morta e tivesse sido gol. Quero tirar do caminho e pronto”.
P. São 166 jogos com a Seleção, que é o recorde de um jogador na Europa. Você dá importância?
Iker: “Eu estou dando valor, porque estou ciente de que na Seleção não me faltam nem dez anos, nem cinco, nem três, nem dois ... e não sei se um. Jogar com 40 anos é impossível”.
P. Buffon está no caminho.
Iker: “Sim, mas eu não vejo uma competição ainda na seleção italiana. Aqui na Espanha é diferente. Tudo é analisado com uma lupa e se vê de uma forma muito rigorosa e você tem que ser honesto com você mesmo. Eu tenho 16 anos na Seleção, consegui o máximo. Talvez seja hora de pensar no que é melhor para mim. Eu não sei se este ano ou no próximo. Eu tenho que sentar um dia para pensar e analisar o que é melhor”.
P. Com quem vai ver Real Madrid - Barcelona no sábado?
Iker: “Eu acho que estarei em casa e verei tranquilamente ou talvez com um companheiro de equipe”.
P. Por quem você apostaria cem euros que ganharia?
Iker: “Se tenho que ser jogador, tendo a vantagem do Barcelona, um empate vale. Que ganha o Barcelona é sentenciar a Liga e poder ocupar a Champions e a Copa. Se vencer o Real Madrid, diminui a distância e, embora seja complicado, Real Madrid está acostumado a grandes feitos. Também depende de como ganhar. Se ganha de 0-5 tem média de gols. É difícil. Real Madrid tem que ir com tudo e lutar para alcançar a segunda posição”.
P. Você mudaria por Keylor Navas?
Iker: “Não, meu tempo já passou no Real Madrid. Eu gostaria que o Real Madrid ganhasse e que estivesse sempre em primeiro lugar e ganhasse títulos. Agora eu vejo como fã e posso sofrer na derrota e alegrar-me com a vitória, mas não olho mais além. Agora há um goleiro que está fazendo bem. Que aproveite e saboreie. Minha etapa se fechou há dez meses e já não tenho nenhum tipo de vínculo mais que o emocional”.
P. De longe como você vê o Real Madrid?
Iker: “Olha, olha... Está claro que existem etapas difíceis, duras. Sobre o seu adversário estar na final da Copa, em primeiro lugar na Liga BBVA, na Champions League. Vamos ver o que acontece e esperemos que possamos estar na semifinal e continuar lutando. Se passar os que têm mais nome, será uma semifinal emocionante”.
P. Você imaginava Zidane de treinador?
Iker: “Sim, eu imaginava. Eu também tive segundos com Ancelotti. O clube ou o presidente ou quem quer que tenha optado por Zizou, tem crédito. Tomara que faça bem”.
P. Você imaginava que Benítez duraria quatro meses?
Iker: “É um clube difícil. Para os Madridistas sempre que tem que ir um treinador com tão pouco tempo, não é bom, mas as decisões são tomadas para melhorar a equipe. Por Rafa me dá pena. Eu falei com ele quando ele estava no Real Madrid”.
P. Nesta conversa te disse ou insinuou que você não iria jogar?
Iker: “Não. Já sabia que eu estava falando com o clube para rescindir. Ele se preocupou por mim, me chamou várias vezes e diante disso, não tenho queixas. É uma pena que teve que ir do Real Madrid”.
P. Você não voltou a falar com ele?
Iker: “Sim, eu dei lembranças, um grande abraço e nada mais. Foi antes de assinar com o Newcastle”.
P. E com Florentino?
Iker: “Não. Desde que saí, não voltei a falar com ele”.
P. Terá homenagem neste verão, no Santiago Bernabéu?
Iker: “Não sei. Não depende de mim. Isso depende de como vai à temporada. Se formos campeões, iremos diretamente para a Champions. Também depende do Real Madrid. É complexo buscar uma data para todos”.
P. Que ocorra tudo bem para você.
Iker: “Igualmente. Eu gosto que você se lembra dos exilados em Portugal”. Finalizou.