https://madridistasbrasil.blogspot.com/2017/07/nao-se-pode-ganhar-todas-resumo-da.html
Os torcedores do Real Madrid Baloncesto ficaram mal
acostumados, e, eu me incluo nessa conta. Há duas temporadas conquistávamos o
até então inimaginável “Repoker”, vencendo os cinco títulos disputados na
temporada, sendo estes: Supercopa da Espanha, Copa do Rei, Liga Espanhola ACB,
Euroliga e Mundial de Clubes. A equipe liderara por um Sergio Llull em ascensão
contou com a habilidade de Rudy Fernandez, a força de Andrés “El Chapu” Nocioni
e a técnica de um Sergio “El Chacho” Rodriguez que fez a melhor temporada de
sua carreira.
Então, por que não se pode ganha todas? Ora, assim como no
futebol, o Real Madrid é o maior campeão da Espanha (no basquete, tanto Liga
quanto Copa) e da Europa, onde soma nove conquistas continentais. Porém,
diferentemente do futebol, o basquete nem sempre esteve em evidência. Houve um
lapso de tempo onde a equipe de basquete apenas existia, e via um Barcelona
liderado por Rick Rubio e Juan Carlos Navarro ganhar tudo o que podia,
alternando a disputa da Liga ACB com o Baskonia. E como se não pudesse piorar,
um então jogador na lista de descartes do Real Madrid, Ante Tomic, cresceu e
tornou-se um dos melhores centers da Europa vestindo a camisa azul-grená. As
coisas começaram a mudar a partir do locaute da NBA, onde jogadores
estrangeiros buscaram times pra jogares um por um período limitado enquanto a
situação não normalizava nos Estados Unidos. Para o Real Madrid, significou a
vinda de Rudy Fernande e Serge Ibaka, porém, enquanto o congolês retornou ao
Oklahoma City Thunder, Rudy decidiu mudar de ares ao fim de seu contrato com a
NBA.
O ano era 2012, e tínhamos um big 3 formado por Sergio
Rodriguez, Felipe Reyes e o recém-chegado Rudy Fernandez. Ganhando espaço aos
poucos vinham Sergio Llull e Nikola Mirotic (hoje agente livre na NBA após três
temporadas com o Chicago Bulls). Construímos uma equipe fortíssima, uma
verdadeira dinastia que dominou a Espanha e a Europa. De todos esses, Rodriguez
e Mirotic não estão mais na equipe, por preferirem buscar novos ares na NBA, o
que é totalmente compreensível. Nikola era um jovem com um sonho de jogar na NBA, e Chacho, após vencer tudo o que pôde aqui recebeu uma proposta irrecusável para fazer parte da reconstrução do Philadelphia 76ers.
Encerrada a temporada de 2014-2015, onde tivemos a glória
máxima, iniciou-se a temporada de 2015-2016. E nela conquistamos os títulos espanhóis,
vencendo o Barcelona na final da Liga ACB e na final da Copa do Rei. Porém,
caímos para o vice-campeão Fenerbahce na fase semi-final, não chegando a
competir a Final Four de Berlin. Os turcos formaram uma equipe que tinha tudo
para ser campeã, mas, bateu na porta ao enfrentar o poderoso CSKA na final da
competição. Nenhum sinal de alerta foi ligado, e nossa equipe sofreu reforços
pontuais, dando largada à uma nova era de americanos dominando o Real Madrid
com Dontaye Drapper, Anthony Randolph, Othelo Hunter, Trey Thompkins e Jaycee
Carroll fazendo parte de nossa equipe.
Então, começamos a temporada de 2016-2017, onde a primeira
luz de alerta foi ligada. Os reforços vindouros tinham o claro objetivo de
ocupar o espaço aberto com a saída gradual de Nocioni através da força física e
técnica de Randolph, e, fazer de Othelo Hunter o substituto natural de Felipe
Reyes, compensando a saída (que deu errado) de Gustavo Ayón. Além dos
recém-chegados, Luka Doncic vinha destruindo os números históricos construídos
por Rick Rubio, tornando-se um dos melhores jogadores jovens da Europa, titular
do Real Madrid no lugar de Rudy Fernandez aos 17 anos. Eu mesmo, em conversas
com amigos ou comentando em páginas e basquete falava que a equipe dessa
temporada, no papel, era a melhor que havia visto no Real Madrid em muito,
muito tempo. Tinha tudo pra dar certo, não é? Pois é, tinha.
Vimos na temporada de 2016-2017 Sergio Llull tornar-se o
melhor jogador da Europa (desculpa Milos Teodosic, você ainda é fantástico),
sendo considerado por diversos meios esportivos o jogador mais em forma fora da
NBA. Explosão física, um arremesso de três pontos incrível, e um poder
sobrenatural de decisão. Foi no NBA Global Games de Madrid que vimos Llull
jogar de igual para igual com o MVP da NBA Russel Westbrook, em uma disputa que
forçou os americanos ao limite.
E a temporada de altos e baixos começou com a conquista da Copa
do Rei, numa competição extremamente disputada, sediada pela arena de
Vitoria-Gazteiz no País Basco. A final contra o Valência liderado por Fernando
San-Emeterio e Bojan Dublejic foi antológica.
Os jogos continuaram, acumulamos vitórias, estatísticas, e
chegamos à fase final da temporada, onde o final não foi tão feliz. Primeiro
veio a Final Four de Instanbul, na Turquia. Dessa vez, enfrentaríamos os mesmos
turcos que nos eliminaram na temporada passada, mas agora no quintal da casa
deles. Infelizmente, a força do Fenerbahce e o apoio quase absoluto de sua
torcida pesou para os turcos, que superaram o Real Madrid em uma partida
vencida por nove pontos de diferença. Na partida seguinte, proclamaram-se
campeões contra o Olympiacos da Grécia (que soma seu segundo vice-campeonato em
três anos). Muitos culpam Randolph, outros falam que Doncic pensou demais na
NBA e esqueceu da Euroliga. Eu apenas acho que o Fenerbahce jogou melhor e fez
por merecer. Temos uma bola laranja, quarenta minutos em quadra e duas das melhores
equipes do mundo.
Voltamos para a Espanha, onde o Real Madrid se classifica
para os playoffs da Liga ACB após terminar a fase regular em primeiro lugar. As
quartas de final e semi-final pareceram fáceis, algo normal para o atual
bi-campeão da Liga e Tetra campeão da Copa do Rei. Mas, chegaram as finais, e
com elas uma versão enfurecida do Valência que não aceitou a derrota na Copa do Rei.
As finais foram disputadas em uma melhor de cinco jogos, que
acabou em 3 a 1 para os valencianos.
A temporada acabou e somamos apenas um título. É motivo para
desespero? Não. Com certeza não. Perdemos a Liga e a Euro para equipes que
jogaram muito bem. Ser os maiores significa ser a equipe a ser vencida, e dessa
vez souberam nos vencer. Precisaremos de reforços pontuais para a próxima
temporada, precisaremos que o técnico multi-campeão Pablo Laso coloque a equipe
de volta aos trilhos. E as expectativas são boas. Se por um lado perdemos
Nocioni, que encerrou sua carreira, por outro temos Llull numa crescente
invejável (MVP da Copa do Rei, Liga ACB e Euroliga), e Doncic que, se evoluir
como esperamos, terá a Europa aos seus pés e chegará sem surpresas à NBA num
futuro próximo.
Perdemos dois dos três principais títulos, mas, perdemos
jogando bem, e buscando a vitória em cada momento. Assim é o esporte. Em
algumas vezes você ganha, outras não, e sobrevivemos. Que venha a temporada
2017-2018, e com ela novas conquistas.
Hala Madrid y nada más!